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Interview - Transcript Miguel Santos por Cecília de Lima
[20 Janeiro, 2024]
Cecilia
OK Miguel então vou te fazer uma entrevista com a técnica de explicitação que está relacionada com tentar perceber quais foram as tuas percepções sensoriais durante uma determinada experiência e primeiro queria-te perguntar se concordas com essa entrevista
Miguel
sim sim
Cecilia
OK então eu gostava de
vamos focar eu gostava que tu ficasses num dos momentos em que tiveste a dançar com o Avatar virtual e que gostava que pensasses especificamente sobre um dos duetos
num momento específico e a partir
e que me digas o que é que como é que tu sentias o teu corpo
eu vou começar agora por uma abordagem mais mais geral e depois especificando
Miguel
Ou seja
Eu logo no primeiro dueto o início do primeiro dueto para mim é assim dos pontos que mais me me confusão fez a nível de corpo
porque de uma forma geral Eu Não tenho contato da Ester
então Eu Não sei quando é que ela começa
a não se não ouço a respiração dela não ouço nada
e …ou seja e o facto de eu ter que alterar a minha
ter que alterar a minha a minha posição e a minha
e a minha forma de de começo altera logo também a maneira Como Eu entro no dueto
Cecilia
tu lembras-te nesse momento
Miguel
o que é que estavas a ouvir? qual era onde é que estavas
qual era o foco da da tua percepção auditiva?
Miguel
logo na primeira vez que experimentámos ?
eu acho que já estávamos com música então na realidade eu estava só focado na música
apesar de não termos timing
estava a tentar acho estava a tentar entrar dentro do espírito da música
tu até encontraste ou tentaste encontrar uma música que fosse um pouco de encontra a nossa qualidade de movimento
o que eu senti o que eu sentia
é que ou seja a música mesmo quando eu fiz com o corpo presente da Ester a música estava lá
mas as coisas ou seja
A sensação da pressão dela e do descer do toque dela do do deslizar dela
colocava me logo no Estado de espírito para o estado de qualidade de movimento para o dueto
que com a realidade virtual não aconteceu
e só a música às vezes era
ou seja no início foi um bocado estranho
[3:20]
Cecília
e consegues perceber o que é que te fez então entrar nesse no dueto
Miguel
Memória física
Cecilia
OK queres falar mais sobre o que é esta Memória física
Miguel
Memória ou seja eu como intérprete
ainda para mais nós trabalhamos neste dueto várias vezes e com e com um ponto de partida em exercícios de improvisação que NOS colocavam nesse nesse estado
então eu sinto que quando tu pedias OK vamos a este dueto
automaticamente o meu corpo sabia o que é que ia fazer
e lembrava-se dessa Memória
portanto ….
[4:12]
Cecilia
e essa Memória era em termos de de que aspecto do som da Visão de sentir a respiração do contato com outro ainda?
Miguel
ou seja a Memória física a minha, a pessoal a minha Memória física, pronto, obviamente pessoal , esse nesse momento tinha mais a ver
ou seja eu quando penso ou seja automaticamente quando penso no primeiro dueto penso logo nestas premissas que NOS deste: peso, de relaxamento do corpo, de fluidez juntamente à respiração e foram essas memórias com o meu corpo guardou
ou seja o contato direto com o corpo da Ester acrescentava eram mais camadas
eram ou seja as camadas extra
esta Memória física com o meu corpo já tinha
que com a realidade virtual eu
ou seja eu só tinha a minha Memória física.
OK ou seja estas camadas extra tinham que ser meio que falseadas
era era no processo imaginativo
[5:25]
Cecília
então consegues descrever como é que era por exemplo essa Memória do peso como é que como é que tu tu ativaste essa Memória de peso e de fluidez a consegues descrever um bocadinho mais detalhada acho que sim como é essa memória
Miguel
ou seja. sem o corpo da Ester, com a realidade virtual senti que havia muito mais necessidade de me focar e de intensificar a minha respiração.
eu gosto ou seja, eu utilizo o Como
Eu utilizo o recurso da respiração muito
eu utilizo muito o recurso da respiração ao longo dos vários …
não só este mas qualquer outro projeto que eu faça a minha respiração é sempre muito evidente
eu faço muitos sons e eu senti essa necessidade
uma vez que não tinha qualquer outro estímulo físico eu tive que recorrer a respiração como forma de peso
o if a respiração e os meus próprios sons que eu fazia de ….
esta … ou seja esta sensação de que o ar que entra provoca peso em mim e não a outra pessoa
mais um
[6:45]
Cecília
Consegues aprofundar aí e tentar ir então a esse momento e aprofundar essa sensação da respiração. Tu disseste esse ar que entra e provoca peso
tenta pensar como entra como te como te afetou nesse momento
Miguel
uma vez que os estímulos uma vez que os estímulos físico em relação ao par estavam fora do quadro e eu estava
ou seja o meu o meu foco
os únicos focos que eu tinha
ou os únicos estímulos que eu tinha era auditivos e
ou seja nem visuais nem sequer
ou seja nem sequer eram muito estímulos visuais porque nesta realidade virtual em específico eu percebo
ou seja eu percebo que é uma realidade virtual e eu distancio me
ou seja não eu nunca entra 100% dentro dessa realidade
então eu estava
ou seja sentia que o estímulo auditivo e o neste pá mas não se pode dizer olfato no sentido de cheirar mas no sentido de ar
estava muito mais presentes era muito mais evidente
eu sentia que esses eram os meus estimulos mais evidentes
E com ou seja como esses 2 estímulos ganharam peso extra
todo ar que entrava era canalizado no sentido de me criar densidade
porque este primeiro dueto com Ester é muito é muito sobre peso e muito sobre a densidade que nós temos um sobre o outro neste encontro de pesos
mais do que um segundo
então ou seja esta esta entrada do ar automaticamente
eu sentia necessidade de a canalizar para como se o ar como se o ar tivesse apesar de
obviamente o ar é feito partir de partículas
senti esta necessidade de do ar ter ter uma estrutura diferente dentro de mim
o meu ou seja
a minha sensação física foi exponenciada nesse sentido p
orque o ar criava
o ar criava espaço e criava peso
tinha uma densidade, criava tinha uma densidade diferente no na minha caixa torácica
ou seja quando eu quando eu inspirava eu ele ele tinha a capacidade de me de me colocar no meu centro no meu eixo
porque Eu Não me via
então esta esta entrada de ar era a minha oportunidade de me colocar no meu eixo porque ficava mais leve então eu sentia mais facilidade em encontrar o meu eixo e o meu equilíbrio
e quando deitava o ar fora era de facto quando eu tinha todo do meu peso a enterrar-se no chão
era era o momento em que eu sentia sentia entre aspas o peso da Ester
O Peso da Ester era o ar exalado
ou seja quando eu vou quando eu vou à Memória do dueto físico
A Ester ao fazer pressão em mim obriga-me a tirar o ar fora
e era mais ou menos isso que eu tentava canalizar
o ar a sair era a pressão da Ester e o ar a entrar Era Eu a tentar encontrar o meu equilíbrio
sim
[10:28]
Cecilia
OKOK olha e tu falaste na questão da conexão do peso se não me engano acho que foi essas palavras que usaste a eu gostava que agora que te focasses no momento desse dueto com a Ester
para tentar então descrever mo como é essa conexão através do peso
como é que tu
Miguel
Do meu próprio peso?
Cecilia
não do peso do outro desta conexão entre vocês os 2 através do peso do outro a partir de do momento específico do dueto
Miguel
deixa-me só passar foi sim
Cecilia
toma o teu tempo
Miguel
olha logo, também logo um dos momentos iniciais quando a Ester passa por baixo do meu braço e nós vamos os 2 para o chão e ela tem que se enrolar em cima de mim
mais uma vez esta esta ideia de respiração eu
ou seja faz-me só a pergunta para outra vez para eu entrar
Cecilia
como foi tu falaste que há uma conexão com ela através do do peso essa partilha de peso
Miguel
e ISTO depois transporta é transposto a realidade virtual
Cecilia
mas eu agora queria que tu te focasse apenas no momento do do do dueto físico
e tentar descobrir como é essa conexão através do peso
como a ….leva o teu tempo ….não há assim
é e falaste dessa característica do ar que te faz exalar
e que outras conexões tu sentes
eu acho que pode ser
eu acho que pode ser esse mesmo momento
porque inclusive na foi um momento bastante interessante na aula que nós demos apoio ao movimento contigo
que foi um momento Super interessante porque pode ser pode ser de facto visualmente pode ser um momento que não parece ter assim tanto peso mas ao ter que explicar
au obrigar-me a explicar aos teus alunos a necessidade de do do contato e desta resistência deste peso constante e que para mim foi evidente nesse momento que por muito que seja só uma passagem para o chão
as ERster está constantemente em contato comigo e está constantemente a oferecer-me esta resistência este peso para eu saber exatamente onde é que eu estou com ela.
porque é importante
porque esse momento em específico em que vamos os 2 para o chão há há um encaixe
que se não for bem ou seja se nós Se Eu não souber onde é que a Ester está e se a Ester não souber onde é que eu estou o encaixe fica um bocado estranho e compromete o momento a seguir
então eu sinto sinto nesse momento por exemplo
uma necessidade enorme de de ela me oferecer resistência
e de de eu estar em constante contato com ela
eu acho que acho que isso acho acontece quase de uma forma inconsciente obviamente por causa de todo o nosso percurso
e também eu já conhecer o corpo da Ester
e nós já termos feito duetos
mas a há uma conexão quase visceral de partilha de centro
que me transporta para o um certo Estado que o dueto pede
uma certa densidade que este dueto de partilha de peso pede
por exemplo para contextualizar o peso, o peso do outro traz quando fala em peso e quando falamos em contato e resistência, automaticamente para mim traz-me uma certa densidade, uma certa nuvem quase uma gelatina á nossa volta que cria esta densidade de movimento
e quando eu sinto a Ester há qualquer coisa na minha espinha, na minha coluna há qualquer coisa no meu centro que se envolve com ela
é como se através das minhas mãos e através e através do contato que eu tenho com ela todo o meu corpo respirasse o mesmo tempo com ela
estas camadas extras que que peso e corpo dela me dão que eu estava a falar na pergunta anterior acontecem acontece um bocadinho aqui
que ou seja esta camada extra esta conexão visceral que eu tenho com ela
vista não no sentido sexual ou não no sentido de animal
mesmo no sentido de eu sinto-me dentro de mim qualquer coisa que Eu Não sinto na realidade virtual
e no contato físico com ela é que é bastante evidente neste momento que parece que a minha coluna quando eu vou para o chão
quando eu tenho peso do joelho dela
quando eu tenho a minha mão a arrastar pelo corpo dela
há um desenrolar da minha coluna diferente
há um não é esforço Eu Não diria esforço mas há um engagement há um engajamento do centro que é completamente diferente.
[16:24]
Cecilia
e nesse momento como é que tu descreverias a relação que é que é gerada
Mesmo em termos da própria fisicalidade da relação
e estás à vontade para usar algum tipo de imagem
mas o que é como é que toda essa fisicalidade que tu estás a descrever
o que é como é que tu sentes em termos da relação que tens ali com outro com esse outro com o corpo da Ester neste caso naquele momento ?
Miguel
ou seja a imagem que eu vou dar não
não de todo não de todo transporta NOS para a qualidade de movimento mas transporta me para a relação que eu sinto que tenho com a Ester nesse momento
é aquela imagem dos do bando de pássaros que está conectado de alguma maneira e as manobras que eles fazem no ar parece que há uma rede
parece que há uma rede
não não é espacial a palavra parece que há uma rede que interliga todas aqueles movimentos
parece que eles sabem exatamente para onde é que eles vão
parece que há uma antecipação de movimento
de de de de alguma antecipação de qualquer coisa
e eles sabem exatamente e nunca chocam
e essa imagem para mim é incrível
e quando há esta conexão de toque de peso
eu quase que com quase que consigo antecipar o que é que ela vai fazer
quase que consigo antever O Tempo dela
o peso dela a qualidade dela
porque ha não sei
a química. quando nós falamos em química é necessário este contato
nós não temos nós não temos uma química sem um contato nem que seja visual nem que seja físico nem que seja olfativo mas há um contato através de um sentido
e eu quando estou com ela fisicamente há essa química
que me traz que me permite que me permite meio que entrever
que me permite estar no momento presente com ela
faz sentido?
Para mim faz sentido nó não sei se vais de encontro À pergunta que tu estás a colocar
[18:48]
Cecília
sim é e vai de encontro Eu Não sei o que é para ti
mas é isso é tentar perceber Como É Que É
como é que se para ti descreverias aquilo que é para ti esta fisicalidade da relação
e como é que isso cria uma outra relação
tu falaste desta imagem dos passarinhos
desta conexão desta rede
Miguel
porque existe de facto é como
Cecília
ao mesmo tempo há bocadinho estavas a falar também de uma bolha
…uma bolha gelatinosa não é entre os 2 ao mesmo tempo é uma rede
[19:32]
Miguel
ou seja o contato o contato físico e visual neste
principalmente neste dueto e quando falamos em dança
existe para mim existe muito contato 3 tipos de contato para mim são essenciais
físico visual e auditivo
e quando eu estou com um corpo físico quando eu estou com a Ester ou
parece que automaticamente ou inconscientemente eu aumento esses como se fosse um botão de volume
eu aumento esses 3 volumes e estou presente com ela
ou seja essa
o que acontece é que para mim
quando eu estou em contato com alguém nesse momento
essa bolha o que acontece com essa bolha porque é que os sinto essa bolha
Cecilia
Tenta-te focar especificamente neste momento com a Ester
Miguel
ou seja e porque vocês estão lá
ou seja o que acontece com essa bolha eu
porque é que eu descrevo como bolha porque eu sei que vocês estão cá fora eu continuo a perceber que vocês estão cá fora estão a falar estão a ter ilações estão a dar correcções estou a fazer 1001 coisas no entanto o meu foco é a Ester
por muito que eu por muito que eu tenha estímulos visuais externos
eu estou com estes 3 volumes tão acesos ou tão aprimorados com a Ester
que que tudo o que é estimulo externo
meio que é o é só ruído visual
não não de todo me desconecta
esta bolha esta bolha é é é no sentido de foco
eu estou com Se Eu estou com Ester e eu tenho um corpo que está ao meu ao meu ao meu cuidado entre aspas à minha disposição
eu sinto automaticamente a necessidade de estar presente com a Ester naquele momento
[21:27]
Cecília
como é que tu descreverias essa bolha em termos por exemplo
Tu há bocadinho falaste que era gelatinosa
em termos da textura da dimensão talvez … tem uma cor? Estão os dois 2 envoltos nessa bolha ou há um braço que esteja de fora, como é que tu descreverias então as qualidades de textura de cor ou de peso ela é pesada?
[….]
Miguel
esta bolha pode de facto adquirir várias texturas e várias cores e várias qualidades
mas neste dueto em específico eu sinto-a gelatinosa por causa deste peso que nós temos que oferecer um ao outro
então o peso automaticamente oferece-nos resistência
e a resistência
para para essa resistência acontecer todo o meu corpo está engajado nessa resistência
por muito que eu a sintra só numa mão só num cotovelo só numa perna
todo o meu corpo está envolvido nessa resistência
e é como se o ar ou essa bolha à minha volta
tivesse também resistência
porque não é só um membro que está presente nessa resitencia
é todo o espaço em si que tem essa resistência
falaste em cor engraçado não sei não sei porquê vem me a cor meia amarelada
não sei se não sei se por se por necessidade luminosa
mas é meio que esta meio que este momento iluminado
porque a efemeridade do momento da dança
tão é tão evidente que quase que exige uma necessidade de iluminação entre nós os 2
de quase aquela conexão de de da lâmpadazinha
tipo carregas e ela ilumina-se
então aquele momento para mim que o que eu sinto entre nós os 2 é um momento de iluminação
é o momento em que há uma ficha que liga as 2 luzinhas ao mesmo tempo
estamos ali
[23:47]
Cecília
E dirias que esse bando de conexões como existem esse pássaros esses pontos que se conectam estão dentro dessa bolha se movem dentro dessa textura
Miguel
desculpa porque tu falaste do braço fora ou não
não, lá está, nesta bolha pelo facto do corpo estar engajado na sua totalidade é um
ou seja é quase como um invólucro quase como uma segunda pele
ela acompanha NOS independentemente da nossa distância porque por exemplo este contato
este contato inicial
prolonga-se mesmo que haja um momento de separação de contato físico
eu sinto a presença dela existe este invólucro
esta segunda pele gelatinosa que serve de veículo
que serve o veículo ela estica se pelo espaço
[24:46]
Cecília
OKOK agora gostava que pensasses então nesse mesmo momento mas quando estás a dançar com a realidade virtual como é então essa essa bolha
se ela existe ou continua a existir ou não existe
será se calhar não é uma bolha é uma outra coisa
Miguel
ela está assim
essa bolha pelo simples facto de não ter um contato físico com uma pessoa real enfraquece
enfraquece porque ainda para mais o Avatar tem um tempo muito próprio
tem um tem uma fisicalidade muito diferente também da que
apesar de ter sido feita através dos nossos corpos
a densidade que a Ester me dá
mesmo estando separados
não estou a falar só em contato físico
estou a falar mesmo da resistência
do do tu Veres o músculo a contrair
Veres o abdómen
Veres o centro a ficar ativo,
o Avatar não tem isso logo essa bolha
essa bolha enfraquece
essa bolha na realidade envolve-me de facto envolve me mas já não envolve a outra pessoa
essa bolha é pessoal
e essa bolha é pessoal dentro dos meus próprios estímulos
que era o que eu estava a dizer há bocado
nomeadamente em relação à respiração
ela tem que estar muito mais presente
para eu sentir que de facto existe algum peso e existe alguma densidade que reste desse dessa Memória com a Ester eu preciso de fazer um uso muito mais evidente e muito mais carregado nesta respiração para que esta bolha se mantenha viva
nem que seja só comigo
[26:42]
Cecília
e descreverias então essa bolha com as mesmas características físicas de textura de cor
no modo como ocupa o espaço
pelo que disseste há bocadinho a bolha vai se esticando conforme o não é algo não é algo ?????mas é algo que se vai esticando no espaço
Miguel
Estica-se no espaço ou seja
por exemplo imagina há um momento em que eu e a Ester estamos um bocadinho mais afastados A
A Ester continua com essa bolha, eu sinto que estar continuo com essa bolha e eu continuo com essa bolha apesar de … meio tipo aquelas massas de açúcar que se esticam
mas é isso Ela estica-se mas passa
neste caso a textura numa realidade virtual
a minha textura e a minha bolha de facto mantém-se
agora ela não é exponenciada porque o Avatar da Ester não tem essa bolha
porque lá está
Como Eu estava
Como Eu não consigo ter acesso visual aos músculos a respiração a textura a própria textura da pele do corpo dela
para mim ela deixa de ter acesso a essa bolha
eu tenho
e ela de facto para mim mantém-se porque eu recorro a esta Memória física através da minha respiração
mas já não se prolonga para para o Avatar
e não se prolonga para o Avatar…
Cecília
Então dirias que essa qualidade de esticar já não está presente
Miguel
Não tem. Não tem. Digo-te também porquê
porque Eu Não tenho acesso ao meu próprio corpo
eu acho que isso é um ponto que é super importante
que eu descobri descobri em conversa com a Ester no outro dia
que eu estava ali depois comentamos contigo
que de facto estava era estranho
é porque assim eu consigo ter acesso físico à minha qualidade de movimento e essa bolha que estamos a falar
por uma questão de Memória física e de trabalho
eu consigo ter acesso a isso
mas é uma sensação meio Agridoce meio estranha porque Eu Não sinto uma devolução por parte do Avatar
então de repente é estranho
e o simples facto de eu também não ter acesso visual no meu campo visual ao meu próprio corpo ainda me coloca numa situação mais alienada
então Eu Não sinto ou seja
eu sinto a bolha mas Eu Não a vejo necessariamente
porque Eu Não vejo o meu corpo
então ela ainda fica mais estranha
é mesmo só sensorial
já nem é tão visual nem de contato nem nada
seja Se Eu com a Ester tenho estas estes 3 estes 3 volumes aumentados do visual do do toque e do e da respiração
eu ali só tenho uma questão sensorial minha
é único e exclusivamente sensorial minha , a mim.
[29:42]
Cecília
tu estavas a falar de
falaste também da questão
falaste da questão do tempo do tempo do Avatar
que há há uma alteração da relação de tempo com o Avatar
gostava que te focasses então num momento em que isso tivesse bastante presente na tua dança
vamos manter a mesmo mesmo dueto
Miguel
aliás podemos-nos focar na logo no início
podemos NOS focar na mesma logo no início
esse momento é ótimo esse momento é mesmo muito bom
é mesmo muito bom porque
Cecília
falaste que há um …
que a vivência do tempo é diferente
queres aprofundar essa viv~encia do tempo?
Miguel
também de uma forma de contextualização de experiência pessoal não necessariamente só assim de 2 segundos para contextualizar
Se por exemplo se nós utilizássemos
se nós tivéssemos utilizado a música de uma forma muito mais ligada no sentido
no contexto de contagens se nós tivéssemos contagens muito próprias eu provavelmente não iria sentir essa esse afastamento de tempo
mas como mas como dueto e a própria música não tem contagens
não têm ou seja temos um timing
eu e a Ester fisicamente temos um timing, temos um tempo muito próprio
que sofre obviamente sofre sempre ajustes de peso
porque há momentos em que Eu Não estou tão no meu peso e há momentos que ela não está tanto no peso dela
então existe ajustes
e não existe tempo muito próprio
mesmo com contagens nós temos ajustes nanossegundos de ajustes que que depois podemos acelerar para compensar O Tempo
na realidade virtual isso não acontece de todo
não acontece de todo
porque como foi ou seja como foi filmado é
ou seja como é que vou explicar ISTO
como é que faz
apesar de ter sido filmado conosco foi filmado numa só
ou seja foi foi uma só tentativa entre aspas
então nós naquele momento naquela passagem naquele espaço naquele naquele lugar tivemos um tempo
que de repente passamos para este estúdio para este dia e o meu corpo pede ajustes diferentes
então ou seja eu deixo de me focar nela e deixo me focar na sensação do peso dela e de de de estar conectado com ela
deixo de focar nisso para ter que ter uma preocupação extra que eu vejo este tempo como uma preocupação extra que me ocupa espaço mental para eu entrar dentro do dueto
este timing do Avatar
este tempo do Avatar para mim é uma preocupação a mais que eu tenho que estar focado
tenho que estar focado em não me ver
tenho que estar focado em não ouvir e não a sentir
e ainda tem que estar focado em acompanhar O Tempo dela
portanto é um factor extra que me
ou seja que dificulta a entrada
a minha entrada
e a minha seja a minha abordagem
a estar a 100%
eu meto os óculos e para sentir que estou a 100%
para sentir que estou 100% esse fator não ajuda no tempo do Avatar
[33:50
Cecília
então estás a dizer que é no sentido que o Avatar não não ouve o teu tempo
Miguel
Não de facto não
porque ou seja uma vez OK exato ok obrigado
uma vez que Eu Não me vejo a mim próprio
eu tenho que
tenho micro ajustes que demoram mais tempo
logo a partir do momento em que Eu Não tenho Eu Não tenho a a presença física da Ester
não vejo o meu corpo
automaticamente eu vou precisar de mais tempo para encontrar o meu peso através da minha respiração
como estava a dizer há bocado
e o Avatar não acompanha este tempo
porque o Avatar foi feito com 2 corpos físicos
portanto a resposta é muito mais imediata
com o contato físico
e com a transferência de peso
do que com uma situação em que Eu Não me vejo
não a vejo
e não a vejo como real
porque lá está o Avatar nem sequer se aproxima uma realidade
[34:54]
Cecília
OK então eu agora gostava de tu te focasses na tua sensação de tempo quando fazes o dueto com com a Ester real não é como é que tu vives esse tempo
está presente em ti como é que tu descreverias as qualidades físicas até desse tempo de um tempo que se estiva
Miguel
Eu Não sinto que o seja Eu Não sinto que O Tempo físico desse dueto físico seja algo como cronometrado
não é tipo tipo não é os ponteiros do Relógio é um tempo mais sensorial
é um tempo mais espacial quase
não é aquele tempo analógico que nós temos constantemente
e e o facto de eu estar com a Esther
esse tempo
desculpa faz-me outra vez a pergunta
Cecília
como é que tu discutir descreves a qualidade do tempo que estás a
mesmo ou pode ser sempre através de imagens
Miguel
Continuando a contextualização
um bocadinho só um bocadinho mais a contextualização que eu estava-te a dar antes
cada um tem uma percepção temporal muito própria
A Ester passa O Tempo analógico
Ou tem uma percepção do tempo analógico de uma maneira completamente diferente da minha mas quando nós estamos a fazer o dueto eu sinto que os nossos tempos partilham
ou seja nós temos uma partilha muito própria
porque sempre estamos
ou seja estamos interligados e estamos obrigados por uma questão de
por uma questão de premissa peso
um peso do outro
nós estamos automaticamente interligados nessa correlação de tempo
eu e a Ester precisamos de ter naquele momento o mesmo tempo
por isso é que eu digo para mim durante o dueto O Tempo não é analógico
como nós temos essa partilha de tempo é uma coisa muito mais sensorial
ela usa me para eu para me colocar no tempo dela
e eu uso a para a colocar no meu tempo
portanto é é sempre este Ping pong de de partilha de tempo
[37:43]
Cecília
e eu agora gostava que tentasse perceber de
tentasse deescrever a tua relação com esse tempo que vocês partilham
é uma relação
estás por cima estás por baixo estás por dentro
Miguel
Ai estamos completamente dentro.
Cecília
Há um controlo. Há descontrolo. Há pressão?
Miguel.
Há completo controlo e eu sinto que ainda para mais com uma partilha de peso tão evidente nós estamos em completo controlo do nosso próprio tempo
uma vez que não temos uma sequência coreográfica com contagens
nós estamos em controlo do nosso próprio tempo
e para mim
ou seja eu quando
Cecília
Dirias que O Tempo aí então se estende? Há uma capacidade de estender e encolher O Tempo?
Miguel
Eu acho que ele para.
eu acho que ele pára um bocadinho. ele pára um bocadinho.
porque lá está não havendo necessidade de recorrer ao tempo analógico para NOS guiarmos por uma música que tem uma minutagem
não havendo essa necessidade O Tempo pára
o tempo e eu ainda por cima sou uma pessoa eu sou um intérprete e uma pessoa que relaciona sempre tudo
eu gosto muito porque acho que acho que tudo está conectado e interligado
E ai puxando ou seja trazendo a bolha para este momento
porque acho que é importante
a bolha a bolha em si congela esse tempo
apesar de apesar dessa dessa pele e dessa gosma se esticar no espaço obviamente
dentro dessa bolha O Tempo é muito próprio
o tempo é muito pessoal
nós somos nós nós temos que NOS tornar apesar de tudo nós temos de tornar-nos uma pessoa Com com 2 corpos
uma pessoa com 2 cabeças uma pessoa com 4 braços uma pessoa com 4 pernas com 2 troncos mas somos uma pessoa
somos um organismo que se rege que se rege por um tempo
um tempo Eu Não estou lá está não posso dizer que O Tempo congela obviamente
porque O Tempo não congela não é
mas há uma suspensão
há uma suspensão é como se nós não estivéssemos no plano terrestre entre aspas
Cecília
sim sim
Miguel
uma viagem sensorial
[40:16]
Cecília
há aqui alguns termos que com que estás a relacionar
tinha só uma última questão não sei se
Há bocadinho tu falaste na questão de se não
desculpa eu antes disso queria queria então que tu falasses como é esse tempo que tu estás a descrever esse momento desse tempo que estás a descrever quando te relacionas com a Ester de carne e osso
como é que essa percepção de tempo acontece quando estás então com o Avatar
e tendo em conta o mesmo momento
Miguel
é engraçado
O Tempo pode ser tanta coisa
e quando eu estou com a Ester há uma sensação quente
O Tempo O Tempo assume quase ali um termostato
aliás eu quando faço um dueto com a Ester ficamos os 2 logo automaticamente muito mais quentes
mesmo a suar e tudo
e quando eu quando eu faço com Avatar há uma sensação de rigidez e inflexibilidade
O Tempo O Tempo O Tempo real com o corpo físico da Ester é muito maleável
essa bolha maleável apesar de densa é uma bolha muito permeável e maleável em relação ao tempo
que com Avatar torna-se rijo muito inflexível é frio
uma coisa muito fria
então há quase uma há quase uma desconexão dela e uma conexão comigo
eu sinto a necessidade
apesar de ela lá estar o Avatar dela lá estar
eu preciso de me sinto a necessidade de me conectar muito mais comigo do que com Avatar
porque não há uma não há uma relação humana com o Avatar
que acredito que se calhar se por exemplo lá está ou quer entrar aqui no campo das suposições porque dissemos que não era o objetivo
mas acho interessante se o Avatar fosse mesmo muito mais real se fosse uma imagem realista da Ester se não me se não me puxaria mais para dentro
porque há eu sinto que este afastamento eu sinto mesmo
que quando entro dentro dos óculos existe logo auma desconexão da da minha parte com o Avatar porque primeiro não é real
não se aproxima com a realidade da Ester
e é frio muito frio
Cecília
então e pegando nessa tua suposição mas fugindo aqui um bocadinho ao âmbito da entrevista mas desculpa está por uma curiosidade e mas que se penso que se relaciona
tu disseste que se o Avatar fosse mais real
que elementos é que o Avatar, quais são os elementos que precisas para o sentir mais real? que tu imaginas que precisarias porque é uma suposição e não é uma experiência ainda não é
Miguel
existe existe existe a gravidade a gravidade do Avatar para mim é super importante
e eu sinto que eu sinto que o Avatar está sempre muito no ar
é sempre muito fora
apesar de ter apesar de termos um chão virtual e apesar do Avatar estar no chão virtual
é tudo muito leve
tudo com Avatar faz é muito leve
não existe densidade muscular porque o próprio Avatar não tem músculo
é muito angular é todo ele muito angular
então eu sinto que eu precisaria de colocar músculo nesse Avatar
precisaria de colocar peso do cabelo
eu mexo eu vejo cabelo da a Ester e o cabelo tem peso No No quando ela faz um movimento tem uma certa direção que quando há quando está no Avatar é muito reto muito boneco é muito desenho animado quase
e não existe essa esse gravidade
a acho que estes 2 fatores
3 eu preciso de um terceiro que é a expressão
eu sinto que por muito por muito ténues que as expressões sejam
quando eu faço com a Ester pessoalmente no meu campo de Visão ela tem uma expressão
que neste dueto por exemplo é mais carregada
por causa desta densidade fica uma coisa muito mais um olhar
há um brilho no olhar e há uma concentração no olhar e na expressão dela que o Avatar não tem
portanto estas 3 coisas acho que eram essenciais para a realidade do Avatar:
esta gravidade, o músculo e a expressão facial.
Cecília
É engraçado que tu falaste na questão da gravidade e associada ao movimento
a falta de gravidade associada ao movimento retilíneo
consegues
[45:27]
Miguel
por exemplo o primeiro dueto o primeiro dueto é muito redondo
em comparação com o segundo por exemplo
o segundo já não me faz tanta confusão
o segundo estou muito mais
primeiro o segundo não estou
nunca estou tão em contato com
e o próprio movimento meu
o meu movimento movimento era muito mais robótico e muito mais em cima
já não sinto tanta confusão
por isso é que eu fui ao primeiro dueto
o primeiro dueto é o que me faz mais desconforto
porque é muito redondo
esta densidade quando eu
ou seja quando eu e a Ester trabalhamos juntos
esta nossa densidade dentro da bolha torna-se
e a transferência de peso
torna-se um movimento muito fluído e redondo
há pessoas que se calhar não
mas comigo e com a Ester é ISTO que acontece
o nosso a nossa qualidade de movimento fica muito densa muito redonda e fluida
e o Avatar não tem essa
não tem essa
não diria glitch não diria que seja um glitch mas a articulação da coluna da Ester não existe
portanto a eficiência a eficiência de de de passar do movimento A ao movimento B no Avatar é muito mais direta
enquanto Ester tem uma articulação muito mais densa mais visceral
[46:55]
Cecília
sim sim
então eu agora gostava de pegar então numa última questão
que eu queria ainda desenvolver
que é a questão de não
Tu à bocadinho disseste que não vias o teu próprio corpo e que isso te causa uma desconexão
eu queria que pensando se calhar nesse momento de desconexão tentasses descrever como sentes essa desconexão
o que é essa desconexão de sentes
uma desconexão com o teu próprio corpo
é uma desconexão do bailarino quando está de olhos fechados e não vê o próprio corpo é uma outra experiencia.
Miguel
É uma outra experiência
Cecilia
Como é que comparas as 2 experiências
Miguel
não é
ou seja não é uma
é uma desconexão muito racional quase
para mim trata-se de uma desconexão racional
porque Se Eu fechar os olhos eu continuo com a sensação do meu corpo
porque Eu Não tenho qualquer estímulo visual
portanto não tendo estímulo visual
toda toda a perceção sensorial é aumentada
portanto eu continuo a saber, eu sei tocar no meu nariz eu sei tocar na ponta do meu pé
por muito que às vezes vai encontrar eu sei que ele está aqui
agora quando eu tenho estímulo visual do planeta da água do Avatar
mas não vejo o meu próprio corpo
racionalmente há qualquer coisa estranha ha qualquer coisa que o computador que está no nosso o computador que é o nosso cérebro diz não ISTO é um bug
ISTO é ISTO é estranho
ISTO não é ISTO não é o habitual
então eu sinto que não existe
porque quase que quase que o sensorial se torna
quase que o sensorial se torna o se torna uma imaginação quase
torna-se um traço um traço de imagética
porque Como Eu não
Como Eu estou a receber estímulo visual mas não me vejo
toda a minha sensação é quase como se tivesse numb é adormecida
Cecilia
Anestesiada
Miguel
o seja parece que a sinapse do centro do teu corpo não está lá
é tipo a sinapse não acontece
porque ele não entra sequer no meu campo periférico
Cecília
OK OK eu acho que vamos ficar por aqui obrigado obrigado viu obrigada Miguel porque