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Interviews

Interview - Transcript Daniel Pirata por Rui Antunes

[20 Janeiro, 2024]

Rui 

Tentar lembrar-te do momento da performance no In Shadow no momento em que estás em palco, já em palco e vais colocar os óculos a primeira vez. Tens memória desse instante?

Daniel

sim tenho. Sim.

Rui 

 pronto então tenta visualizar esse momento, tentando imaginar que estás nessa situação. Sentes … descreve-me o que é que está a acontecer.

Daniel 

então primeiramente a utilização na minha parte com os óculos era um bocadinho diferente porque Eu Não tinha necessariamente um dueto com o Avatar, era uma improvisação com o objetivo de oferecer ao Público uma perspetiva sobre o que é que nós visualizávamos com os óculos. Então eu acho que logo daí faz alguma diferença sobre o que é que eu estava a sentir, tendo em conta que Eu não ia realizar o dueto que sabia o que era.

Rui 

 mas estavas a ver Avatar?

Sim, estava a ver igualmente o Avatar

 é sempre acho que é sempre diferente de estar no palco com os óculos o que é estar em ensaio porque já cai já existe uma responsabilidade maior ou uma…

 não vamos por ai. não vamos …. não tentes lembrar.  outra tenta lembrar desse instante. Portanto o que é que estás a sentir a sentir? o chão lembra-te do chão? consegues situar. 

Daniel

eu acho que o melhor a melhor definição para isso era ISTO … e vai de encontro exatamente do que é que eu ia fazer que era este improvisação. Porque eu já já ia com algum medo mas lembro-me perfeitamente quando coloco os óculos eu entrava muito distante do Avatar e estava fora para entrar na realidade virtual. Então tipo era quase este medo e lembro-me de ansiar ou o ter medo de ultrapassar as paredes por pelos espaço ser diferente 

eu acho que era mais este medo; mais que nervoso era quase medo é medo quase dum …

é mesmo uma realidade virtual é uma coisa diferente; que Eu Não estou habituado, acho que é um o medo que é descritivo disso: é um espaço que não é natural. Não existe uma naturalidade naquele espaço em que eu entro de um momento para o outro, quando eu coloco os óculos e entro naquela realidade virtual é um espaço que é ….que não é de todo natural. E acho que isso traduz um bocadinho esse medo, essa ansiedade, assim alguma ansiedade sim.

Rui

Portanto sentes ansiedade, ou descrever essa sensação como ansiedade?

E quando pões os óculos de imediato vez vês o ambiente? não houve ali nenhuma falha?

Daniel

Não. Não havia nenhuma folha. Embora eu colocava os óculos fora e eu acho que isso também alimentava um bocadinho esta ansiedade. Porque quando eu colocava os óculos eu estava a ver mesmo a realidade, porque via pela Câmara. E havia um instante em que eu tinha que me preparar para saber que tinha aquilo ia entrar ou seja eu entrava. Então eu acho que isso também, esse medo também veio um bocadinho por aí. E é sempre diferente. Não é que passamos uma Parede e entramos na nesta realidade diferente. 

Acho que o medo também se traduz um bocadinho por isso, por esta diferença… 

Rui 

então vamos avançar um passo. Agora estás já estás… já estás dentro da realidade. Entraste em cena estás a começar… Consegues ouvir o Público? Consegues nesse instante que que mergulhas no … Não

Rui 

Não, estás mesmo focado. 

Daniel

Não. isso é engraçado. Porque realmente entra-se na realidade virtual. Eu acho que nem conseguia sentir a energia de que estava a ser observado ou … não tinha … pronto, é um espetáculo. É sempre diferente… Há sempre alguma coisa que vem …. Mas não… Não é tão … Parece que é ali é mesmo focalizado naquela realidade virtual. Parece que não sentia nada para além do que do que acontecia. parece que estava mesmo imersivo naquela realidade virtual 

Rui 

mas ao mesmo tempo também estás em toque com o chão, não é? estás nesta realidade. Portanto há aqui esse desfasamento, mas sentes o chão? consegues senti-lo agora? portanto não houve… nesse aspecto estamos aqui! 

e entretanto começa … os óculos, consegues sentir os óculos na cabeça.

Daniel

consigo sim, sim.

Rui

estão bem ajustados? não sentes? está tudo bem?

Daniel  

Estão bem ajustados, sim.

0.07 

Rui 

E o bailarino virtual, o Avatar. e começa a mexer-se. E tu acompanha, ou não? claro que acompanhas.

Daniel

Sim Acompanho. aliás durante todo O Tempo. talvez seja isso que me fizesse estar tão imersivo na realidade virtual porque existia mesmo obrigatoriedade de eu o acompanhar.

 então acho que isso também me fazia com que eu realmente em me encontrasse imersivo

e é sempre estranho porque de alguma forma, parece que é sempre um bocadinho introspectivo.

 não consigo explicar… é-me difícil… mais … é uma presença muito própria minha que eu sinto. E é difícil de realmente explicar esta ligação que existe entre mim e o Avatar para além do propósito de que eu estou ali.

 não não sei se ISTO faz muito sentido, mas é esta questão destas relações interpessoais - e que existem efetivamente -, neste contexto parece mesmo que existe. existe uma distância que é mesmo que é real: ele é mesmo um Avatar. 

Isso faz com que seja muito mais introspectivo. Eu penso muito mais do que é que eu estou a fazer o que é que eu tenho que fazer do que por exemplo nunca num plano real com outra pessoa eu estava efetivamente a dançar com a outra pessoa.

Rui

 em relação?

Daniel

Em relaçação. e isso aquilo parece que existe uma quebra ali no meio em que eu estou a dançar e sei que tenho este avatar comigo que também está a dançar

 é como se esta coisa que eu sinto convém que eu estou atento ao outro tenho esta relação com o outro acontecer só do Avatar para mim não de mim para o Avatar

Rui 

Portanto… ele não tem que te responder. não é? não tens que lhe dar sinais 

Daniel 

eu acho que é por aí. Eu Não tenho que lhe dar sinais. ele não precisa de mim. Ele não precisa de mim. Eu acho que isso imediatamente também faz com que por um lado eu pense que eu também não preciso dele.

não existe uma comunicação uma relação entre o meu corpo e o Avatar 

Rui 

E tentaste quer dizer…ao mesmo tempo, não é, tivemos todas essa prática…. Nesse instante …existe aquela coisa: trespassam se, não é? Ele vem para cima de ti e tu vais para cima dele ali 

nesse instante tu tens Memória disso consegues descrever de alguma forma essa sensação 

já não é nova não é tu já conheces dos ensaios 

mas nesse nesse nesse instante em que estás em que em que em que acabaste de por há bocadinho os óculos, entraste em cena, começaste a dançar 

Daniel

eu tenho … acho que isso até das memórias que eu tenho mais do trespassar e estar dentro do boneco 

porque era suposto eu oferecer essas essas perspectivas do nosso olhar, o que nós viamos para o público. Mas acho que ISTO vai igualmente de encontro ao que eu disse anteriormente da questão da relação 

porque Eu Não conhecia aquela coreografia na sua totalidade 

E é engraçado que agora com ISTO que eu disse da relação faz com que por um lado, na verdade eu precisava dele. eu tinha que ter esta comunicação com ele.

 mas Eu Não tenho essa resposta era só eu que comunicava com ele. E ele não comunicava comigo. Quando eu o trespassava tentava ficar no corpo dele, ele movimentava se e ia para outro lado. Era Eu que tinha que ir atrás dele 

Rui 

Ele guia-te? 

Daniel.

sim é como se ele me guiasse exatamente 

ele guiava me 

ele guiava o meu movimento, os meus passos, ele guiava me sim. 

11:30

Rui 

E quando ele te guia tu vais atrás e há esse desfasamento no toque isso não te causa estranheza?

Daniel

Não, não me causa estranheza. até acho que me só me oferece novas possibilidades do que é que eu posso fazer.

Rui 

Pois, não há ali um obstáculo.

Daniel 

 sim acho que oferecia-me novas possibilidades de eu estava eu estava focado de que agora eu vou trespassar mas o Avatar fugiu. o que é que eu faço agora, e eu tinha quase que responder de imediato. tinha mesmo que o fazer dentro desta improvisação.

 então acho que é um bocadinho por ai.

12:14

Rui

estavas a dizer que sim a percepção da consciência geral do teu corpo.

 tu sentes o teu corpo estás a dizer que em também uma sensação introspectiva 

é uma dança introspectiva quase 

mas sentes o teu corpo 

Daniel 

acho que mais que nunca 

porque esta questão de não ver as minhas mãos não ver os meus pés 

eu acho que isso me obriga a ter uma consciência do meu centro do meu corpo maior do que em qualquer outra altura

 eu acho que isso me obriga a estar mesmo consciente do meu corpo e eu às vezes eu eu percebo sempre isso … quando na utilização dos óculos , eu sinto que danço diferente ou que me movo diferente do que sem os óculos. não pelo, e não tem nada a ver com o facto de eu ter um objeto que são os óculos na minha cabeça que me pode prender … não … não tem nada a ver com isso. tem mesmo a ver com eu sinto que tenho de estar tão consciente do meu corpo porque Eu Não vejo os meus pés as minhas mãos, que parece que… não é que me prendo ….mas existe alguma resistência e alguma força no meu corpo para eu também o continuar a sentir vivo

 porque Se Eu quiser estar atento nesta comunicação com o Avatar parece que facilmente eu vou dispersar desta atenção que tenho no meu corpo 

então é quase uma ___que está sempre em constante movimento 

eu estou sempre neste é nesta divisão entre o que eu tenho que estar consciente e tenho que estar atento …  e eu acho que isso de alguma forma modifica o meu próprio movimento sim 

que é acho que 

por exemplo voltando atrás quando eu disse desta ansiedade e deste medo acho que ISTO também se pode acrescentar um bocadinho 

porque eu acho que são várias camadas de pensamentos que vêm na cabeça 

de tem que estar atento do meu centro 

estou a entrar num espaço diferente aaaah 

acho que existe sempre esta ansiedade do que é que pode acontecer o que é que o que é que vai acontecer é sempre diferente acho que vem tudo um bocadinho por aí sim 

e o ou seja já se falou imensas vezes sobre ISTO, que é esta questão de Se Eu fizesse aquilo de olhos fechados era diferente de fazer com os óculos.

 eu acho que isso é que é a verdadeira questão aqui 

é por exemplo isso que eu estou a dizer 

que eu tenho que estar super atento com o meu corpo. Se Eu dançar de olhos fechados isso não acontece. 

Mas com os óculos isso já acontece as questões do equilíbrio etc são mais 

o meu raciocínio está aí está esta forma e também introspectiva mas é sempre diferente com os óculos

Rui

sentiste alguma vertigem? Falaste agora de equilíbrio 

15:29 

Daniel

a vertigem nunca 

senti dificuldade sim em encontrar o meu equilíbrio 

em algumas situações 

não percebo bem porquê 

não sei se é por ISTO por não ver as minhas mãos não ver os meus pés não sinto esse equilíbrio 

mas também eu também já ponderei por esta questão de 

esta atenção que eu tenho que estar com o meu corpo que ele está presente e que modifica o meu movimento em que me sinto muito mais extenso Eu Não sei se isso também não me dificulta a os equilíbrios as suspensões 

não sei se isso também não acaba por dificultar 

Rui 

essa ausência do corpo, da Visão do corpo na ausência do corpo na vida e do toque. mas é um toque das mãos, porque tu tens os pés no chão e tens o Headset 

sentes de alguma forma que reforças essa sensação do chão 

ISTO é naquele momento em que estás a dançar com Avatar sentes que estás mais… se estivesses a dançar com uma pessoa sentias que a tua relação com os pés era a mesma?

16:47

Daniel

 não 

não com os pés nem com o chão 

por exemplo existe uma necessidade 

acho que existiu sempre uma necessidade na minha parte de 

sempre que eu ia ao chão 

e era aquele esta realidade virtual faz com que eu também por vezes eu duvido até que ponto é que o que me mostra ser o chão é realmente e o chão 

e quando eu lembro-me perfeitamente sempre que ia ao chão por exemplo de lado 

que vinha de um plano alto para mesmo para um plano baixo 

o meu toque no chão era sempre muito mais forte e até fazia mais barulho do que sem os óculos porque existia mesmo uma necessidade de eu ter que sentir que existia ali alguma coisa 

Rui 

Fazias de propósito 

Daniel 

sim fazia. 

lembro-me de terem dito a porque ISTO que acontece ao Daniel é porque ele não vê o chão 

e eu comecei-me a questionar disso enquanto fazia e 

nunca confessei mas mas é isso 

eu sentia mesmo esta necessidade de saber que naquela realidade virtual eu conseguia encontrar uma sensação que era mesmo real 

era mesmo real que era este toque com o chão 

mas é engraçado porque eu acho que só pensava mais nisso nestas idas ao chão 

do por exemplo quando estou num plano alto vertical 

e tenho sempre os meus pés em contato 

acho que aí não tinha tanto esse tipo de ansiedade 

18:08

Rui 

quando estás tu estás estás a dançar 

estás a dançar, o que é que vês o que é que observas? o que é que focas? tenta lembrar-te desse instante em que acabaste de pôr os óculos 

entraste em cena 

Daniel 

eu acho que o foco primeiro são as paredes que estão mais próximas a mim 

porque isso me traz alguma segurança 

saber que qual é que é o espaço onde eu posso estar 

e o que e que me faz entender qual é que Eu Não posso estar 

acho que isso me traz alguma segurança eu visualizar primeiro as paredes que me estão mais próximas 

de saber que aqui é o meu lugar 

e depois foco me no Avatar no Avatar sim 

é quase como Se Eu entrasse e fizesse esta visualização das paredes e dos meus limites 

é este reconhecimento espacial 

acho que é uma questão de segurança é para eu me sentir seguro ali dentro

Rui

primeiro olhas para as paredes … e nessa altura …em algum momento … continuas sem ouvir o Público?

 Daniel

Não tenho não não tenho Memória nenhuma mesmo de ouvir 

Rui 

nem da música?

Daniel 

 nem da música 

por acaso não não tenho mesmo ideia da música 

Rui 

já está integrado 

Daniel

Não tenho mesmo ideia da música.

Rui

Estás focado 

Daniel 

sim e não não tenho não tenho mesmo ideias 

Rui 

de seguida olhas 

portanto olhaste para as paredes 

a seguir olhas para o para o avantar para um 

ou o universo não estás …

Daniel 

olho mesmo para o Avatar.

o percurso que eu faço para olhar para o Avatar 

nunca tinha pensado 

o percurso que eu faço, eu entro e vejo as paredes os meus limites 

e eu faço um percurso Com o mEu olhar até ao Avatar que me permite ver todo todo o espaço até chegar a ele 

ou seja na verdade eu visualizei as paredes todas até chegar a ele 

e as paredes todas 

tanto como o planeta que aparece também o visualizo sim 

Rui 

Fazer um reconhecimento, sim. 

20:55

E o teu movimentos quando começas a dançar como é que sentes 

falaste há bocadinho de estares consciente 

Sentes que é um movimento fluido ou é mais retraído do que seria normalmente 

Daniel 

mais retraído, sim. 

mais retraído 

Rui 

Como? defensivo de que forma?

a sensação geral do movimento

Daniel

foi que eu referi há bocado 

Eu Não estou não não me sinto não sinto uma disponibilidade tão grande de estar a fazer movimentos mais fluidos e leves 

existe sempre alguma tensão NOS meus movimentos 

não só para que eu sinta o meu corpo mas porque uma coisa que me faz confusão é que 

naquela realidade virtual tudo é diferente da nossa realidade 

mas por exemplo este toque no chão e até a densidade do ar o que eu sinto 

ao mesmo tempo não me parece corresponder àquela realidade 

quando eu atravesso tipo quando o meu braço faz um movimento onde eu sinto 

onde eu sinto o ar a passar pelo meu braço pelos meus dedos pela minha mão 

isso traz-me não é medo mas é meio receio e assusta 

por sentir igual a realidade mas estar numa coisa diferente 

é então por exemplo o movimento que eu faria com o braço mais leve 

quando eu começo a ter a percepção de este ar 

também faz com que eu fique mais tenso 

parece que é quase um… 

não é uma pausa, mas essa pausa responde quase num movimento mais tenso 

Rui 

Tu sentes o ar?

Daniel

sim sinto sinto 

Rui 

Tenta lá estar nesse momento. 

23:01

Daniel 

sinto o ar 

penso sobre isso 

mas conforme as coisas vão acontecendo 

eu acho que já estou tão intrínseco nesta neste universo 

que não que não consigo mais pensar nesse tipo de coisas 

eu acho que ISTO é um bocado 

existe mesmo fases existe um percurso quase 

que é o caminho no momento em que estou lá dentro do início ao fim 

existe esta percepção 

esta percepção faz-me começar a ver outras coisas que me estão que me retraem sempre 

e depois parece que eu vou começando a ficar mais intrínseco intrínseco intrínseco intrínseco 

e acho que é sempre estranho quando acaba 

o fim tipo é estranho parece que já era preciso mais 

acho que era preciso mais 

porque é quase este estas fases é na verdade essas é que são o reconhecimento 

parece que quando chega mesmo ao topo desta deste gráfico que está a crescer 

que aí é que apetece fazer mais 

porque ali sim e quando já existe um conforto que não existia desde início 

é um nível de conforto que foi se foi construindo 

24:19

Rui

isso em todas os quadros? Entraste várias vezes. Em todos os quadros tu tens essa sensação

Daniel

com os óculos? com os óculos eu só fiz uma vez 

Rui 

Sim, foi o final. 

então e esse momento e quando tiraste os óculos. 

entretanto acabou não é…

 ele parou vamos fixar-nos aí acabou a peça 

Daniel

aí por exemplo esta estranheza que eu falei ao tipo que é estranho terminar 

acho que isso também aconteceu porque como o meu era o último 

o terminar do meu quando o boneco parou 

acho que a projeção saiu primeiro do que o que eu visualizei 

e eu senti 

aí sim senti o Público 

aí foi quando eu senti o Público 

porque acho que foi blecaute 

o Público percebeu que acabou e eu ali senti as Palmas senti a energia do Público como ainda não tinha sentido 

de alguma forma isso é um bocado avassalador assim 

E depois é tudo super repentino

 tirei os óculos 

Rui 

mas estás com os óculos 

Daniel 

eu ainda estava com os óculos.  É isso é mesmo avassalador. então isso é mesmo abala mesmo. 

porque ali 

acho que aí é que é o momento mais estranho porque eu estou na realidade virtual mas fora dos óculos está mesmo a realidade

25:43

mas ao mesmo tempo aquilo que eu estava a dizer que é tão intrínseco que eu estou tão intrínseco naquilo 

depois é mesmo um choque de realidade gigante quando os 2 mundos se se cruzam na verdade 

que é a realidade com a realidade virtual 

quando eu sinto tipo a energia do Público 

Rui 

Não falamos do esforço da tua relação com o esforço e do tempo do tempo subjetivo 

Ponho-te assim directamente Em relação ao tempo o que é que sentes? Em relação ao tempo da dança. Houve variações, sentiste alguma coisa. A tua dança a tua performance foi fluída houve interrupções ?

Daniel

acho que existiam interrupções da minha para parar 

eu parava. parava mesmo o movimento para observar o Avatar 

também porque era preciso mas isso de alguma forma também me trazia uma segurança 

isso mesmo trazia segurança 

porque como era uma improvisação 

porque eu acho que ISTO é mesmo diferente a questão de realização dos meus óculos ser uma improvisação 

era mesmo diferente porque é quase 

Eu Não estava confortável com aquilo de todo.

 Se Eu fosse fazer um dueto com o meu dueto com alguém dançava com a vontade era diferente. Existiria um conforto que ali não existia.

 então estas pausas de alguma forma faziam-me tipo Respirar e perceber ter calma 

para depois voltar. 

Até porque eu lembro-me que quando eu estava em momentos mais intensos em que estava ali ia tentar procurar coisas 

e havia todas as questões da minha cabeça 

parecia que demorava imenso tempo faltava ainda imenso tempo para tudo acabar 

parece que já estava há imenso tempo ali dentro e quando eu parava era quase o momento 

não de voltar à realidade porque não voltava à realidade neste caso 

mas tinha tempo para observar as coisas ou pensar sobre elas 

Rui

Só observavas ou sentias mesmo por exemplo aí nessa altura essa esse toque do chão.

Daniel

 pronto não, só observava.

Daniel

porque tu também estavas ali com uma missão muito de quase de uma Câmera

de estares a filmar e de nós estarmos a ver o que é que estavas a fazer 

portanto tinhas essa consciência sempre 

isso afetou isso afetou o teu movimento 

Daniel

sim afetou principalmente porque Eu Não sabia se fazia movimentos 

se estava a fazer um movimento a mais movimenta a menos. 

Eu Não conseguia Eu Não tinha essa percepção 

acho que isso nunca foi uma coisa muito clara do que é que eu tinha que fazer naquele momento 

Rui

quanto tempo 

Daniel 

quanto tempo 

quantas perspectivas é que eu deveria oferecer ao Público 

acho que era um bocadinho por aí 

então isso como acho que também não foi tão claro trouxe 

obviamente que afectou o meu movimento porque é isso Eu Não sabia se estava a fazer demais estava a fazer a menos se podia mesmo parar 

mas acho que mesmo que me dissessem que Eu Não pudesse parar eu acho que iria parar à mesma porque eu precisava daquele momento de reflexão 

Rui 

Estás ali a pensar estás não? é o que é que vais fazer 

porque no fundo tu é diferente de todas as outras poruqe de facto tens tens 2 funções tu tens que estar em relação com o com o Avatar e estás em relação com essa Câmara. 

Eu chamo-lhe Câmara mas não é uma câmara. 

estás a pensar no que é que NOS estás a dar. Portanto tens também consciência do que estás, que estás a ser visto e que as pessoas estão a ver o que estás a fazer. Portanto tens de ter sempre essa consciência ya.  E issso isso afecta o teu movimento?

Mas tens consciência disso não é ? 

Daniel

Sim tenho consciência. acho que a realidade virtual já me Como Eu disse já me afecta o movimento por eu estar mais tenso e etc 

mas essas camadas de pensamentos que estão sempre presentes na minha cabeça ainda me afetam mais o movimento 

portanto sempre ali sim sem dúvida nenhuma

Rui 

Estas sempre ali. 

E olha enquanto lá estas não fizeste associações, estiveste focado esse tempo todo.

 Não pensaste na lista de compras. 

Daniel. 

Não, não há espaço para isso.